terça-feira, 5 de agosto de 2008

APAGÃO


Resolvi escrever finalmente. Não que eu não quisesse antes, mas o cansaço mental é tão grande que tenho tido dificuldade de lembrar meu RG. Não pense também que hoje estou revigorada, lépida e fagueira, com mil assuntos “up-to-date”. Não, MESMO! (Gui, essa foi em sua homenagem...rs)

Tô escrevendo única e exclusivamente por uma total falta do que fazer. Acabou a luz! É uma das coisas que eu mais detesto na vida essa de ficar sem luz. Eu fico perdida, paralisada, resmungando e pensando “Como é que as pessoas viviam sem energia elétrica há poucos anos?”. Não lhe parece, caro leitor, algo impensável a menos que vc seja um lama, o Osho ou pertença a alguma religião radical?

Vá lá! Quando essa coisinha básica falta durante a madrugada, meu sono de beleza (que eu nem tenho) nem percebe. O único indício que fica da ocorrência é o rádio-relógio piscando e aí vc se dá conta: ah, acabou a luz! Correção: era a única ocorrência porque agora nos tempos mais do que “modernos” (essa é pro Daniel) você também percebe quando o modem está com 2 luzes apenas acesas e a net fora do ar.

(Cria-se aqui um novo ritual: desligar tudo da toma, reiniciar e rezar pra Nossa Senhora da Internet pra que nada tenha queimado. Se a nossa Santa não der jeito, só nos resta apelar para o mocinho do telemarketing que vai mandar vc fazer tudo que vc já fez incluindo inverter a pontas dos fios da conexão.)

Quando a luz falta durante o dia é ruim, porém, você tem a opção de pegar um daqueles livros não terminados que estão na sua pilha ao lado da cama e entregar-se. Ou, (na boa?), vai limpar o quarto que tá precisando.

Só que hoje é domingo, tá chovendo, eu fiz a faxina ontem e já está escurecendo. A minha única fonte de luz é o computador e o celular enquanto os dois ainda tiverem bateria. E depois?

Resolvo comer. Tem de ser algo frio porque não tem microondas e como não tem fósforo o fogão virou enfeite. Sorvete também é bom, mas tem de correr pra não virar sopa. Nisso, encontro com meu pai na cozinha comendo no escuro. Em seguida vem a mamãe que cai da escada porque não viu o último degrau. Cadê as lanternas, pai? Cadê o papai? Tá lá fora no carro ouvindo o jogo do Palmeiras que tava passando na TV.

Volto pro computador. Fico pensando na vida, fazendo planos, remoendo problemas, masserando dúvidas? Faço uma lista mental de tudo que preciso fazer amanhã – marcar médicos, ver se o dinheiro caiu, pagar algumas coisas -, das coisas que quero mudar começando por mim? Ligo pra alguém (do celular)? Vou passear com o cachorro? Fujo pra casa de um parente?

Talvez isso faça cair a ficha (expressão entrega-idade) de que estamos cada vez mais afastados das pessoas e de nós mesmos. Um momento que poderia ser usado para conversar e trocar idéias ou até mesmo para uma reflexão vira desespero. Não, eu não quero conversar comigo mesma, já faço isso na terapia. Quero ver o Faustão, gente!

Acho que o melhor é me conformar com a situação, acender uma vela e fica brincando de fazer bichinhos na sombra com as mãos. Resgatemos a infância unpluged.


P.S – Assim que eu terminei o texto a luz voltou...mas só ela. A Net permanece fora, com o modem piscando. Sinto saudade da televisão de seletor que era ligada em uma antena em cima do telhado. A essa hora eu já estaria vendo o Show da Vida.