quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

HISTÓRIAS DE CARNAVAL


"A felicidade do pobre parece a grande ilusão do Carnaval
A gente trabalha, o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia de rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira"

Tristeza - Tom Jobim

Adoro o Carnaval. Para ficar em casa, sem fazer nada, jogada no sofá,ou, no máximo, assistir o mundo perder a cabeça pela televisão. Detesto o Carnaval. Pelo menos a maneira como as pessoas usam a data para se transformar. Até a mais recatada das criaturas durante os 361 outros dias do ano, perde a pose nos quatro de folia.
Por quê? Por acaso as "regras" de bom comportamento são revogadas durante esse período? Enfiar o "pé na jaca" - para usar uma expressão da moda – sem conseqüências é permitido? Não sou puritana, estou longe disso, só acho que é uma espécie de fuga: "Faço o que tenho vontade porque no Carnaval pode".
Bom, como eu nunca consegui essa mudança radical de personalidade, nunca fui ligada a tal festa pagã.Mas, e como tudo na vida tem um podre, até euzinha tenho histórias de Carnaval para contar. Patéticas, claro! Foram duas tentativas frustradas de "entrar para o mundo dos foliões" e ser igual a todo mundo.

A primeira vez

O primeiro baile de carnaval você nunca esquece, principalmente se você for fantasiada de pingüim num calor de 40ºC. Eu tinha uma amiga, seis anos mais velha que eu, que morava em Sorocaba, interior de São Paulo, onde eu ia passar as minhas férias escolares. Cansei de roubar goiaba da casa do vizinho pelo muro e passear no "shopingue" como eles chamavam uma galeria que tinha lá na época. Uma dessas férias foi na época de Carnaval, eu devia ter uns 12 anos, e ela, adolescente, me arrastou para a matinê do clube recreativo.
Meu visual pingüim dos trópicos era composto de colar branco fechado até o pescoço, uma capa preta de cetim, sandálias de plástico e um arquinho no cabelo com antenas de purpurina. Era uma mistura de pingüim com ET de Melissinha. Diferente das meninas de 12 anos de hoje, eu era criança de tudo e tão pequena que no meio daquela "muvuca" eu desaparecia. Fazia um calor insuportável naquele no salão e, acho, nunca ninguém tinha ouvido falar em ar-condicionado.
Foi um verdadeiro pesadelo e o resultado final foram muitas bolhas no pé e um trauma, além claro, da destruição total das minhas antenas cor-de-rosa.No dia seguinte, haveria mais matinê, mas eu implorei para que me abandonassem na piscina e foi assim que passei o segundo dia de Carnaval. Sozinha na piscina do clube e muito mais feliz!

A segunda e última vez (para nunca mais)

A segunda vez foi quase um homicídio culposo. Minha mãe teve a brilhante idéia de levar as "crianças" na matinê do clube. Ai, de novo?! Mas, dessa vez, escolada e experiente em bailes de Carnaval, fui de shortinho e blusinha curta, barriguinha de fora, toda colorida. Não havia muita gente e por uns três minutos eu me diverti com a música (aliás, única coisa no mundo que me transforma).
De repente, como em todo o baile, sei lá quem teve a infeliz idéia de fazer o tal trenzinho. Por total inércia, acabei embarcando, até o momento que um menino (coitado), inocentemente, colocou a mão na minha cintura para entrar na brincadeira. Para azar do guri, eu estava com a mão dentro de um saco de confete e foi no automático, sem pensar, joguei um punhado em cheio no rosto dele.
Acho que ele deve estar tossindo e engasgado até hoje, ou pelo menos, deve ter criado um trauma de Carnaval maior do que o meu. Se existe um ser para quem eu preciso pedir perdão é para esse menino. Depois do quase homicídio, virei as costas e saí brava pedindo para a minha mãe me levasse embora daquele lugar.
Bom, a partir desta data, para o bem das pessoas (e dos meninos) que vão a bailes, eu nunca mais fui. Assisto o Carnaval da Bahia pela TV, passo muito rapidamente pelos desfiles do Rio, mas aquela mesmice me tira a paciência. Se um dia eu resolver viajar nessa época, será para um lugar onde a palavra Carnaval não seja conhecida.
Mas, para quem gosta, eu desejo que se divirta muito com juízo e limites para que a festa na se transforme em "mico" e histórias para esquecer.